segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Uma realidade nova

Vivo uma realidade nova. Meu pai continua no hospital, minha mãe com ele. A casa vazia, silenciosa. Eu me acostumando e tentando domar medos que me levaram a crises agudas que nunca tive. Crise de desespero tomando conta de cada molécula do corpo.

Já tive medo. Já tive que ter coragem... mas agora é diferente. É medo de passar de novo, de repetir uma experiência ingrata.

...

Graças a Deus fui no médico que vocês conhecem como Dr. Gentleman. Entrei no consultório e comecei a falar chorando. Soluçando. Ele é um mar de serenidade.

Contei que vi algo "novo" na minha boca, desde a minha viagem. Mostrei as fotos, ele viu tudo, apalpou. Disse que não havia nenhuma evidência clínica da doença, olhou meus exames e repetiu que o prognóstico era muito bom.

Margens livres, nenhum linfonodo, tudo limpo. Me acalmei muito.

Disse que o algo "novo" era cicatrização, parte de um processo inflamatório... e que eu ainda precisaria de uns 6 meses para me recuperar totalmente das duas cirurgias. Saí de lá mais calma e confiando no meu prognóstico.

Acho que saí de lá pronta para retomar minha vida de novo. Minha fala já melhorou um pouco e ele disse que ainda melhoraria mais.

Saí da consulta e conheci uma pessoa mega especial, também da turma da doença chata. Toda a experiência do câncer é ingrata e te transforma. Faz você conhecer uma parte de você que nunca apareceu antes. O câncer faz você funcionar como um aviso para todo mundo da nossa mortalidade... afinal todo mundo vive achando que será "a exceção" da nossa única certeza. Eu, pelo menos sempre vivi como se eu nunca fosse morrer.

Mas a doença também faz com que conheçamos pessoas incríveis.

...

Voltei para minha vida. E agora, espero que até o fim dela sem grandes intercorrências. É a única coisa para a qual não tenho pressa: o fim dela.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Nunca soube...

Eu nunca soube o que era ter depressão. Nunca entendi depressão. E eu tinha a certeza e a pretensão de que eu era a pessoa mais sortuda do mundo, por tudo ter dado sempre tão certo pra mim... tudo. Amor, família, trabalho... sempre tive e lutei por tudo que sonhei.

Até ter cancêr aos 29 anos. E descobrir poucos dias depois que meu pai está com câncer.

Tecnicamente eu não tenho mais câncer. A cirurgia tirou tudo e não deu metástase em lifonodos. Aí volto a achar que tenho sorte. Mas agora já entendo um pouco mais as pessoas que tem depressão.